domingo, novembro 13

Frágil coração

Lutamos por quimeras, ilusões e desejos ironicamente entranhados nas cordas que fazem mover estes nossos corações, e não sendo elas de dragão ou fénix, fazem dele não mais do que o que ele é, não mais do que o que sonha, mesmo que se atreva a sonhar para além da montanha, do céu ou da vida.
As nossas crenças e descomunais deposições de esperanças levam-nos a dar tudo, damos tudo. Despojamos-nos de opiniões próprias em prol do nosso amor,  vemos-nos culpados num espelho que reflecte apenas uma luz condicionada, um chama que vai cessando mergulhada no seu próprio fogo. Cegamos pela ausência... não do nosso amor, mas pela pequeneza do nosso próprio amor.
De alguma forma, em momento qualquer, esse amor quer mais, acaba por querer sempre mais..., está-lhe confinado pelo tempo, está-lhe selado na própria palavra, na aventura que é a exacta desventura gananciosa e impetuosa de querer e ser mais. Contemporaneamente, a nossa humanidade imerge e limita-nos, então não temos mais para dar, mas ele quer mais. Já não restam pétalas numa breve lembrança de jardim, a alma desfalece diante dos nossos pés e sem a vermos calcamos-la sem piedade, sem arrependimentos, sem nunca a sentirmos. Esgotaram-se as palavras de tanto repetidas e gastas nas mesmas frases, havendo apenas dois pares de olhos e duas bocas singelosas que não mais se compreendem no silêncio ou na ausência dele.
Mas, continuamos à sua espera... Pode o  mundo fragmentar-se, podem os rios secar, podem as vozes se calarem, podem as melodias padecerem na alma do músico, podem as palavras sangrarem pela mão do poeta, podem as estrelas cair... Continuamos à espera, mas pode ele sentir algum amor? 
Esperamos, desesperamos até nos convencermos de que sonhos, invenções, surrealismos, paraísos, não são o que são, são na verdade não mais do que aquilo que são - pequenos recantos para pó de alma, recantos onde a depositamos numa tentativa desesperada de a guardar e proteger de brisas, ventos, tempestades; resguardá-la de lágrimas, rios, cascatas; mantê-la inteira de batimentos bruscos e acelerados de coração, dores corporais, medo, desilusões, solidão, perda, amor.

2 comentários:

PauloSilva disse...

«Esperamos, desesperamos até nos convencermos de que sonhos, invenções, surrealismos, paraísos, não são o que são, são na verdade não mais do que aquilo que são - pequenos recantos para pó de alma,» - Sinceramente? ADOREI!

PauloSilva disse...

Fico feliz por gostares, sério!