terça-feira, novembro 4

Aos meus pais

se eu sou flor, vocês são a minha água,
se eu sou barco, vocês são o meu porto seguro
se eu sou tempestade, vocês são a minha calma,
se eu sou chuva, vocês são a minha nuvem,
se eu sou oceano, vocês são os meus mares,
se eu sou Sol, vocês são o meu hélio,
se eu sou constelação, vocês são as minhas estrelas
se eu sou música, vocês são a minha melodia
se eu sou sucesso, vocês são a minha perserverância,
se eu sou amor, vocês são o meu abraço apertado
se eu sou frase, vocês são as minhas palavras,


quarta-feira, maio 21

O suficiente

Eu sei... Nunca fui o suficiente. Nunca o fui para ninguém, porque é que contigo havia de ser diferente? Fui estúpida, é bem verdade. Fui estúpida porque confiei e até cheguei a achar que eras diferente. Mas não. Tirando o sorriso e a voz, és igualzinho aos outros. As roupas, os acessórios, a forma do cabelo, as atitudes, o comodismo fazem de ti só mais um. E não devias querer só mais um...
Houve um dia em que pensei que não te importavas e, até esse dia fui feliz. Fui feliz porque achava que não te importavas que eu fosse eu, só eu. Mas, afinal, não... Eu nunca sou o suficiente.
Sabes, às vezes, tenho pena de mim. Mas é todos os dias, é só de vez em quando. Tenho pena daquilo que não tenho e daquilo que eu não sou, no entanto tudo dói mais quando sinto pena daquilo que eu sou. Já alguma vez tiveste pena de ti próprio por aquilo que és?
A culpa é mim e eu sei. Sei perfeitamente que não consigo ser forte todos os dias, mas estou a tentar. Estou a tentar ser o suficiente. O suficiente para mim.

domingo, maio 11

If I should have a daughter

If I should have a daughter, instead of Mom, she's gonna call me Point B,
because that way she knows that no matter what happens,
at least she can always find her way to me.
And I'm going to paint solar systems on the backs of her hands,
so she has to learn the entire universe before she can say,
"Oh, I know that like the back of my hand."
And she's going to learn that this life will hit you hard in the face,
wait for you to get back up just so it can kick you in the stomach.
But getting the wind knocked out of you is the only way to remind your lungs how much they like the taste of air.
There is hurt here that cannot be fixed by Band-Aids or poetry.
So the first time she realizes that Wonder Woman isn't coming,
I'll make sure she knows she doesn't have to wear the cape all by herself.
Because no matter how wide you stretch your fingers,
your hands will always be too small to catch all the pain you want to heal. Believe me, I've tried.
"And, baby," I'll tell her, "don't keep your nose up in the air like that.
I know that trick; I've done it a million times.
You're just smelling for smoke so you can follow the trail back to a burning house,
so you can find the boy who lost everything in the fire to see if you can save him.
Or else find the boy who lit the fire in the first place,
to see if you can change him."
But I know she will anyway, so instead I'll always keep an extra supply of chocolate and rain boots nearby,
because there is no heartbreak that chocolate can't fix.
Okay, there's a few heartbreaks that chocolate can't fix.
But that's what the rain boots are for.
Because rain will wash away everything, if you let it.
I want her to look at the world through the underside of a glass-bottom boat, to look through a microscope at the galaxies that exist on the pinpoint of a human mind, because that's the way my mom taught me.
That there'll be days like this.
There'll be days like this, my momma said.
When you open your hands to catch and wind up with only blisters and bruises;
when you step out of the phone booth and try to fly and the very people you want to save are the ones standing on your cape;
when your boots will fill with rain,
and you'll be up to your knees in disappointment.
And those are the very days you have all the more reason to say thank you.
Because there's nothing more beautiful than the way the ocean refuses to stop kissing the shoreline, no matter how many times it's sent away.
You will put the wind in winsome, lose some.
You will put the star in starting over, and over.
And no matter how many land mines erupt in a minute, be sure your mind lands on the beauty of this funny place called life.
And yes, on a scale from one to over-trusting, I am pretty damn naive.
But I want her to know that this world is made out of sugar.
It can crumble so easily,
but don't be afraid to stick your tongue out and taste it.
"Baby," I'll tell her, "remember, your momma is a worrier, and your poppa is a warrior, and you are the girl with small hands and big eyes who never stops asking for more."
Remember that good things come in threes and so do bad things.
And always apologize when you've done something wrong.
But don't you ever apologize for the way your eyes refuse to stop shining.
Your voice is small, but don't ever stop singing.
And when they finally hand you heartache,
when they slip war and hatred under your door and offer you handouts on street-corners of cynicism and defeat,
you tell them that they really ought to meet your mother.
 
Sarah Kay
 

quarta-feira, maio 7

Aquilo que eu sei

- Não gosto de ti, pelo menos agora não.
- ...
- Tu sufocas-me. Contigo sinto enclausurada, fechada num elevador, sem ar e até chego a ser claustrofóbica, só porque estás comigo. Eu sei que amo. Amo à grande e à desgraçada, mas o problema é que não sei mostrá-lo. Muitas vezes não sei..., simplesmente não sei. Não consigo. Contudo, sei o suficiente para saber que não gosto de ti e que isto não é apenas uma tentativa de me autoconvencer disso mesmo. Se eu gostasse de ti, sentir-me-ia livre! Mesmo estando presa. Sei que não gosto de ti porque nunca encontro nada para falar contigo, nenhum tópico serve, nem mesmo a cultura da batata na América Latina. Se eu gostasse de ti, a minha voz podia falhar, mas as palavras continuariam a juntar-se naturalmente e com todo o sentido que têm quando é amor.  Não gosto de ti porque tens demasiada pressa. Aceleras sempre aquilo que deve ser levado devagar e tomas por adquirido aquilo que tem de ser conquistado. És preguiçoso e não sabes esperar. E, por isso, também não sabes amar. Se soubesses, amarias, amar-me-ias e saberias que quando se ama não se ama só agora, ama-se também depois.

segunda-feira, março 31

Auschwitz

Quando se faz uma mala, põe-se lá muito mais do que roupas, sapatos ou objetos do quotidiano. Quando se faz uma mala, com as camisolas vão histórias, as histórias das nossas vidas, do que foi as nossas vidas.
Quando se faz uma mala, em cada par de meias vão sonhos com um futuro melhor, num sítio melhor, com uma vida melhor.
Quando se faz uma mala abraça-se o medo com a mesma força com que se dá um passo para a frente, para o futuro, para a vida.
 
Cerca de um milhão e meio de judeus fizeram as suas malas.
 
Quando se olha para um trilho de um comboio, olha-se para onde se vai para ser feliz.
Quando se olha para um trilho de um comboio, olha-se com os sonhos, não com os olhos.
 
Cerca de um milhão e meio de judeus embarcaram  num comboio rumo a Auschwitz.
 
 
Em Auschwitz, da terra fez-se inferno. Dos sonhos fez-se pó. De humanos fez-se cinza.
As paredes que ficaram de pé, guardam gritos. Gritos pela vida. Gritos de vozes caladas por balas, pela fome, pelo frio e pelo Zylklon B. Gritos de inocência ceifados por gente sem humanidade.
 
Que se aprenda com a história. Porque a história é muito mais do que um par de frases escritas num livro. A história é feita de gritos. Que estes cerca de um milhão e meio de gritos sejam ouvidos.
 



 






 


segunda-feira, março 17

Para ti e por ti, com amor

É por ser "para ti" e "por ti" que se sabe que é amor. E é por ser assim, tão sem sentido, mas a transbordar de significado que é mesmo amor.
 
Há pessoas que nunca dizem "para ti" ou "por ti". Há pessoas que não se importam com o amor.  Simplesmente não querem saber. Não se importam se o têm ou não. Mas isto não é simples, é triste! Porque são elas as que mais precisam de amor. Precisam tanto dele, quanto precisam de oxigénio.
O amor também devia ser emprestado. Devia-se poder emprestar amor como se emprestam canetas. Se todas as vezes que se empresta uma caneta, se emprestasse também um bocadinho de amor, o mundo seria um lugar muito mais bonito para se viver. 
 
Eu sei que não se pode ser feliz todos os dias, mas amar pode-se. Devia-se poder.

segunda-feira, fevereiro 24

Perder alguém

Quando perdemos alguém demoramos tempo para perceber o que na realidade acabou de acontecer.
Derramam-se lágrimas, soltam-se gritos de dor e desespero, cresce um aperto no peito e, então, não há mais Deus, não há qualquer foça superior, não há justiça, não há piedade, não há mais nada. A verdade é que não conseguimos perceber o porquê. Porquê alguém que eu gosto? Porquê alguém que nunca fez mal a ninguém? Simplesmente: porquê?
 
O pior é o vazio. O vazio que se conjuga com uma espécie de catalisador e cresce até não mais caber  no coração, tomando de assalto toda a caixa torácica e, de repente, respirar torna-se a ação mais difícil do mundo. Costumam chamar-lhe "sentir falta" ou "saudade", mas é pior que isso. É sempre pior quando aquilo que se perdeu fazia parte de nós e por isso quando esse alguém se foi embora, parte de nós foi com ele.
 
Precisamos de tempo. É tão simples quanto doloroso. Mas é isto o melhor remédio. O mais complicado é que não se consegue arranjar uns frasquinhos com tempo lá dentro em farmácias ou em lojas de conveniência. Nem no mercado negro comum ou até mesmo no chinês há. Tudo o que se pode fazer é satisfazer as necessidades biológicas do corpo e esperar que o resto sare. O melhor que se pode fazer é deixar o tempo vir e nos dar uma grande bofetada e, então, erguemos a cabeça e voltamos a viver outra vez.
 
 
 

quinta-feira, fevereiro 20

As saudades


É. Custa. Custa e doí. Estar longe das pessoas que falam a minha língua, que comem o que eu gosto de comer e que calcam as ruas que agora guardam as minhas histórias. Raios! E as moedas… Até das moedas tenho saudades!
O bom é que isto passa… a passos de caracol, mas passam! A única forma de lidar com a saudade é ser mais esperto do que ela. Em bom português: é preciso passar-lhe a perna. Aprende-se a controlar e, sobretudo, a contornar.
Ter saudades, doí. Doí um bocadinho no coração, mas o mais importante é continuar. Continuar sempre e para a frente. Para a frente porque atrás vem gente!
 
(Enquadramento da minha situação atual: estou em Erasmus em Olomouc, República Checa!)
 
 

As músicas de hoje


- Mas afinal o que é que se passa com as músicas de hoje?
- O que é que elas têm?
- O que elas têm? Quem as faz deve andar a pôr alguma “coisinha” nelas…
- Isso é a tua forma de admitires que és tocada por elas?
- Não! É a minha forma de dizer que elas são tão estúpidas que tocam e tocam na minha cabeça e faz-me sentir algo que não é suposto sentir…
- Não deves ter conseguido mesmo uma melhor forma para admitires que não és assim tão impermeável. Minha cara, por muito que te custe não és imune a uma balada e também tu absorves cada palavra e batida como se conte exatamente a história da tua vida.
- Vês?! Agora também admitiste que essas baladas que só servem para aumentar o caudal dos rios e possivelmente são grandes contribuintes para o aumento do nível médio de água nos oceanos e que são umas grandes galdérias, já que se adaptam a qualquer um.
- Olha que tu! Só tu, neste mundo, poderias chegar ao ponto de comparar as baladas com prostitutas… Podes dizer o que quiser. Não! Podes inventar o que quiseres, mas aguenta-te à grande porque também tu és uma cliente fiel delas.
- Eu?! Andas um bocadinho enganado, não?
- Não. Não ando. Ou pensas que não sei que o teu mp3 está cheio de músicas que só de ouvir os primeiros 10 segundos reparas que já foste à cozinha e voltaste com uma faca para cortar os pulsos?

terça-feira, janeiro 28

Alguém feliz


- Estive a pensar e acho que nós os dois seríamos bons pais…
- Seríamos?
- Estou convencido que sim…
- Então e porquê?
- Porque aprendemos com os erros dos nossos pais.
- Sim, se formos por essa perspectiva já temos uma grande lista “do que não fazer”…
- Tu serias uma boa mãe.
- E tu serias um bom pai.
- …
- ...
- E então? Como é que imaginaste o nosso filho?
- Imaginei-o feliz… A criança mais feliz do mundo! E tu?
- Eu?
- Sim tu…
- Ohhh… Eu queria que fosse alguém que andasse sempre com o seu coração. Com o cérebro também, mas sempre que possível mais com o coração. Queria que tudo o que ele visse a fazer para o mundo fosse uma continuação de tudo aquilo que ele for dentro dele e não daquilo que o mundo espera que ele faça. Que seja o que ele quiser.
- Não queres que ele seja médico, advogado ou um grande jogador de futebol?
- Não.
- Ainda bem! É que eu também não…
- Quero que faça qualquer coisa que lhe dê gosto levantar todos os dias de manhã, qualquer coisa que lhe dê um tremendo prazer em viver. Que seja alguém que está sempre à procura daquilo que lhe traz felicidade, mesmo que isso signifique ter de dar um passo para trás. É isso… gostava que, acima de tudo, ele não tivesse receio de dar um passo para trás para que da próxima vez possa avançar seguro de si próprio. Que não tivesse medo de voltar para trás caso isso signifique ser feliz. Nem mais, nem menos. Feliz. Simplesmente feliz.

segunda-feira, janeiro 27

A ironia da vida



- Já não tenho nada. Nada. Absolutamente nada.
- …
- Já não tenho um corpo para viver. Para poder viver.
- O problema não é o teu corpo.
- Não é?! Já olhaste bem para mim? Por acaso já reparaste que não me consigo mexer? Já viste este pedaço de merda que me tornei? Já reparaste que este não sou?
- O teu problema não é o teu corpo. O teu problema é nunca teres aprendido a viver para além dele. Para ti sempre foi mais importante uma ejaculação do que uma boa conversa. Sempre preferiste aquilo que é mais fácil, por isso tudo o resto era apenas um apêndice que de vez em quando servia para alguma coisa.
- ...
- Pois bem, agora é ao contrário. Os papéis inverteram-se. A tua personalidade é tudo o que te sobra e o teu corpo é apenas um parasita que consome a tua carne e a tua esperança.
- Talvez tenhas razão… mas não estás completamente certa.
- Não?
- Não. Estás errada quanto à esperança. Já há muito que a perdi, por isso nada resta dela para ser consumido.
- …
- Mas não tenhas pena de mim… Não te atrevas a ter pena de mim! Porque nisso fui vitorioso! Fui eu quem ganhou essa batalha! Acabei com ela antes que a roubassem ou que também ela acabasse comigo.
- Eu não tenho pena de ti. Tenho amor por ti.
- …
- …
- Ao acabar com ela ganhei alguns segundos. Sabes o quanto é importante alguns segundos quando se está a morrer? Não sabes… mas são. Realmente, são.
- Sei.
- Não sabes. Não podes saber. Não estás a morrer.
- Estou. Estou a morrer por ti o quanto tu estás a morrer de mim. Por isso sim, sei. Sei à minha maneira, tal como tu sabes à tua.
- Que grande ironia da vida quando um par ou dois de segundos se tornam tão importantes quanto umas gotas num deserto só porque o final da linha está bem diante de nós.
- …
- Um par ou dois de segundos que na semana passada desejava que passassem a correr por mim e agora dava tudo para os ter. Que macabra é esta triste ironia de querer viver e não puder.

 

sexta-feira, janeiro 10

Nós e a doença

Acho que é preciso ficar-se doente. Melhor, o nosso corpo devia estar pré-programado para que pelo menos uma vez na vida todos ficássemos extremamente doentes. Mesmo, quase a morrer. É caricato, fatalista e até chega, ironicamente, a roçar no mórbido,  sim,  mas faz sentido. É necessário… extremamente necessário, porque todos os dias entram, passam e saem pessoas na nossa vida e tudo é muito bonito e muito colorido, mas quando viras uma carcaça humana, ui!, foge logo tudo a sete pés… e ali ficas tu, pobre pedaço de pessoa doente e coitadinha, só e abandonada. 
É realmente caricato…
Quando não precisas delas, elas não param de te chatear (falam, falam, não dizem nada de jeito e não se calam), mas quando tu precisa que te chateiem, que simplesmente falem contigo sobre "coisas" que não lembram a ninguém, as sacanas têm sempre algo para fazer. Puff! Evaporam-se todos os seres humanozinhos que supostamente davam cor à tua vida… Mas que grande novela mexicana. Que lengalenga do diabo.
Por isso, acho que devíamos sentir a vida a escapar-nos para lhe dar-mos o devido valor. Logo nós que só damos valor às "coisas" e às pessoas quando já as perdemos... Gostamos tanto de contrariar que nos contrariamos a nós próprios e à nossa própria vida. Sendo assim e por muito que custe a admitir, nós precisamos de sentir a vida a fugir-nos para começarmos a correr a trás dela.
Bem sei que não se deve brincar com a doença e muito menos com o "faz de conta" da doença, mas o que nós merecemos é que ela brinque connosco... Talvez assim nos tornássemos pessoas diferentes. Talvez se tornassem em pessoas melhores e perdêssemos menos tempo de vida no tempo em que vivemos.

quarta-feira, janeiro 8

Amar alguém

Quando se ama alguém e esse alguém precisa de nós, então não podemos ser somente nós próprios, mas também a pessoa/aquilo que ele precisa. Acho que sim... Acho que amar é isso mesmo: é seres tu mais aquilo que é preciso que tu sejas. Mas cuidado, porque é necessário que o sejas em proporções equivalentes.

quinta-feira, janeiro 2

Esperar

É preciso esperar. É necessário. Se ele/a espera por ti, então é amor.
No amor, esperar não é ficar especado ou sentado no sofá, a olhar para tudo e não ver nada, a pensar em mil e uma coisas para fazer e não mexer nem o dedo pequeno do pé para as começar a fazer. Pelo contrário, esperar no amor é querer e fazer tudo, como se a vida acabasse no minuto seguinte e, mesmo assim aguardar. Esperar no amor é ter a coragem de não vivar as costas. Esperar no amor é saber amar com paciência. Porque afinal de contas o amor é paciente. O verdadeiro amor, é.

sexta-feira, dezembro 20

Sorte

Tu és um sortudo, sabias? Quando corres, quando estás parado, quando sobes as escadas, quando as desces, quando abres a porta, quando a fechas, quando acendes a luz, quando apagas a luz, quando ouves música, quando estás no silêncio, quando escreves, quando apagas, quando comes, quando preparas o que vais comer, quando bebes, enfim... quando vives, tu tens dois corações.
Tu és absurdamente sortudo e eu invejo-te. Invejo-te porque se um dia puseres o teu coração em alguém, se alguém to roubar ou ele deixar de bater, tu terás sempre outro, porque tens dois.
Tu és estupidamente sortudo e nem sabes! Tu és estupidamente estúpido que és perfeitamente capaz de deixar que to destrocem só para teres o gosto de ficar apenas com o outro. E eu, então, odeio-te. Odeio-te tanto quanto consigo e sei. Odeio-te porque o outro é o meu. Eu pus o meu coração em ti.

domingo, dezembro 15

As guerras e as pessoas

A única guerra pela qual vale realmente a pena lutar é aquele que se trava todos os dias entre a nossa cabeça e o nosso coração. E o único equipamento de guerra que precisamos é um bocadinho de persistência, estar disposto a ouvir e outro bocadinho de cedência. Quanto aos benefícios: não se acaba com uns tantos buracos no corpo, não se sangra, não se destrói lares, não se respira, bebe-se ou pisa-se partículas radioativas, não se faz ninguém morrer à fome ou à sede, não se fazem vítimas colaterais, não se fica com uma mutação genética, nem se morre e ainda se resolve alguma coisa. 
As outras guerras não vale a pena entrar nelas... Não são nossas.

sábado, dezembro 14

Olhar para trás

É tristemente engraçado como numa despedida forçada pelo destino ou pela teimosia um simples olhar para trás da pessoa que nos está a abandonar bastava para se desistir de todo o nosso orgulho, atirar a toalha ao chão e ir atrás dela, com toda a força remanescente, com todo o amor a ser injetado nos músculos para tentar alcança-la. Um simples olhar. Raios! Um simples e estúpido olhar! Nem é uma palavra... é um simples olhar! Um simples virar de face e deixar os olhos encontrarem-se e falarem entre si. Um simples olhar e sabe-se se vale a pena ir atrás. Um simples olhar e eu não te deixo ir. Um simples olhar para trás e eu agarro-te nos meus braços para sempre, por agora. Um simples olhar para trás. Um simples olhar para mim - a pessoa que te ama. 

terça-feira, dezembro 10

As pessoas mudam...

Quando pensamos, ou melhor, quando acreditamos que sabemos tudo, ou quase tudo, sobre uma pessoa estamos completamente enganados. As pessoas mudam, inevitavelmente mudam, mesmo quando nos parecem exatamente iguais. Observar uma pessoa é o mesmo que olhar para um mar calmo, onde as ondas beijam lenta e suavemente a areia, mas que no qual, poucos instantes depois, se começam a formar ondas cada vez maiores e mais imponentes. As pessoas são assim... - mudam. E a verdade é que elas quase nunca são aquilo que esperamos e então somos surpreendidos. Às vezes é bom ser-se surpreendido, outras não. Se o que sabemos é uma gota e aquilo que ignoramos é o mar (Isaac Newton), aquilo que nós conhecemos sobre uma pessoa é uma onda e o que não sabemos sobre ela é o mar. Mas, o mar muda, as pessoas também.

segunda-feira, dezembro 9

Caminhos cruzados

Quando duas pessoas que nunca antes se tinham visto neste mundo se cruzam por breves instantes e, de repente, tudo muda, o tempo pára e tudo o resto deixa de ter a importância que até aí tinha, só há uma coisa que esses dois pedaços de alma podem fazer. Procurarem-se. Procurarem-se por todo o lado, a toda a hora, em todas as pessoas. Poderão até cair no erro de desistir ou tentar arranjar alguém parecido na esperança que esse consiga preencher o vazio no coração ou que pelo menos volte a pôr tudo como era no início, mas a verdade é que, inevitavelmente, vão continuar a procurarem-se. Passando os sítios, passando o tempo, passando as pessoas. Vão continuar a procurarem-se porque o coração volta sempre ao sítio em que se sentiu em casa.  E isto é amor. É amar. Tem de ser!

 

domingo, dezembro 8

Sobre os desejos

É engraçado que quando fazemos os nossos desejos depositámos toda a nossa esperança neles, mas depois pensamos "oh, pronto, se não acontecer não faz mal...". Credo! Que desperdício de esperança! Como é que temos a coragem de desperdiçar assim tanto?! Acho que o problema é que nos esquecemos de que nós - sim, nós! -  somos o único  sujeito da frase "Eu desejo...", mesmo que se deseje alguma coisa para outra pessoa. Ora se nós somos o único sujeito, nós somos os responsáveis por criar as condições necessárias para que os nossos desejos se realizem. É que eles não se tornam realidade só por se fazer fisgas... Mas não. Nós não fazemos isso, não criamos as tais condições necessárias. Ficamos na nossa velha conhecida zona de conforto e esperamos... Como somos bons a esperar!

sábado, novembro 30

Novo Projeto: Dear Jonny Books

Partilho aqui o meu novo projeto! Sou uma apaixonada confessa e sem remédio por livros, por isso decidi partilhar os livros que leio de uma forma diferente, uma forma mais divertida e descontraída. Lá cusco os livros e as suas personagens! Tudo isto em conversa com o meu Dear Jonny Books.
http://dearjonnybooks.blogspot.pt/

quinta-feira, novembro 28

Pertença

Quando dizemos alguma coisa, essa coisa deixa de nos pertencer e, então, já é tarde de mais. Já não há volta a dar. As palavras são alteradas e perdem magnitude. Os significados são corroídos e deixam de significar alguma coisa. A emoção desgasta-se e dissipa-se até chegar ao ponto de ser forçada ou até mesmo falsificada. E o sentimento? Esse caduca e já não serve para mais nada.
Mas quando escrevemos não... Quando escrevemos, aquilo que escrevemos é só nosso. Pode chegar a ser "parcialmente nosso" caso o partilhemos com alguém, contudo nunca chega ao ponto em que deixa de nos pertencer. Aquilo que escrevemos só nós o podemos alterar ou apagar. O lápis e a borracha pertencem-nos, a folha de papel pode ser rasgada a qualquer momento... E o sentimento? O sentimento fica impregnado na força aplicada no desenhar das palavras simultâneo à verdade que se funde com o tempo gasto à procura das palavras certas.

segunda-feira, novembro 18

Viver

Acredito que quando descobrimos aquilo que queremos fazer para o resto das nossas vidas, nunca devemos desistir até que o tenhamos conseguido, por respeito a nós próprios.
Eu não percebo o futuro, nem sequer tento fazê-lo...
Viver, para mim, é não querer saber o que vai acontecer no exato segundo a seguir. É aceitar que tanto pode acontecer a coisa que mais me fará feliz neste mundo, como aquela que mais dor me trará. Mas, lá está, viver é isso mesmo, é não saber nada e não perceber nada, mas mesmo assim sentir no peito o desejo por, simplesmente, viver - seja isso o que for.
Viver é um estado de total incerteza... quase tanta como aquela que se tem quando se  entrega o coração a alguém. Por isso descobrir aquilo que nos faz "viver", tal como o amor, não é assim tão fácil porque, afinal de contas, não se vende em frascos nas lojas dos chineses.

sexta-feira, novembro 15

Os sonhos

Nós nunca deveríamos desistir dos nossos sonhos. Nunca! Dia após dia, tenho aprendido que sonhar não é ser irrealista, pelo contrário, sonhar é viver! Sonhar e correr atrás de um sonho é fazer uma autodeclararão de amor! E não devíamos ter tanto medo de gostarmos de nós próprios. Devíamos ser persistentes nos nossos sonhos... devíamos acreditar neles por mais longes que eles possam estar, devíamos defendê-los como leões!
Não devíamos ser tão acomodados... Devíamos deixar de ser preguiçosos, levantar o rabo do sofá e começar a correr bem depressa para os alcançar.
Devíamos querer ser tudo aquilo que sonhámos e ter coragem de admiti-lo para nós mesmos. Devíamos quere ser felizes! Ser felizes mais vezes, durante mais tempo e com mais vontade...
Porque desistir de um sonho é o mesmo que virar as costas à vida, à nossa própria vida. E, virar as costas à própria vida é morrer, ainda que aos poucos.
 

sexta-feira, novembro 8

Saudades

Tenho saudades e sempre odiei ter saudades. Sempre evitei tudo aquilo que as pudesse trazer por arremesso e isso custou-me muita coisa. Nunca me senti à vontade de mostrar a alguém aquilo que realmente sou e, por isso, a verdade é que ninguém – absolutamente ninguém – me conhece. Para mim até é compreensível, porque até considero que seja por amor próprio. Se eu nunca me der a conhecer por completo a alguém, essa pessoa nunca me poderá magoar infinitamente e, assim, terei sempre uma hipótese de me erguer, porque afinal de contas, ela não me roubou tudo. Talvez nem seja amor próprio e eu não passo de uma grande medrosa. Talvez seja isso – medo. Tenho medo de dar tanto de mim e que no final não receba nada em troca, nem mesmo aquilo que eu dei.

domingo, outubro 27

Li por aí (4)

Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.

Bertold Brecht

sexta-feira, setembro 27

Li por aí (3)

“ (…) Apesar de todas as amizades, sempre na vida estamos sozinhos; o que é mais grave, mais doloroso, exactamente como o que é mais belo, passa-se apenas connosco. Entre um homem e outro homem há barreiras que nunca se transpõem. Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos”.

(Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, VII, edição da Ulmeiro, 1990)

Li por aí (2)

“Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama: às vezes o sabe a mulher amada, mas creio até que num amor que fosse pleno, em que nada entrasse das preocupações da terra, nem ela o saberia”.

 (Agostinho da Silva, “Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, II, edição da Ulmeiro, 1990)

domingo, setembro 8

Sonhos

Uma das coisas boas sobre os sonhos é que eles estão em constante metamorfose, tal como nós. Pode custar imenso quando um sonho, algures no tempo, é esmigalhado pela força dos acontecimentos. Pode parecer que, pronto - já está - já chegamos ao fim da linha, a vida deixou de fazer sentido e o mundo vai acabar. Custa muito, eu sei que custa. Mas os sonhos mudam... Alguns estão predestinados a se realizarem para nos deixar continuar a acreditar que tudo é possível (e é mesmo!). Outros já não. Outros sonhos (os que não se realizam e os que "saem ao lado") são para nos lembrarmos daquilo que é real e do que é ilusão.

sexta-feira, setembro 6

Li por aí (1)

Quando nós dizemos o bem, ou o mal... há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas, e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação... No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades... Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem. A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta, mas é o único do género por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana.

José Saramago, in "Revista Diário da Madeira, Junho 1994"