Quando tropeçamos em novas conjugações de palavras que dão um novo sentido à vida, verdades que nos enchem o peito e fazem tudo parecer mais simples e mais belo, devemos partilhá-las.
As palavras são espelhos, são metáforas da alma. As palavras são percursores de liberdade, de sonhos. Ser-se livre é poder mostrar quem somos, sonhar é poder ser o que queremos ser e esse, sim, é o primeiro degrau a subir para se ser feliz.
O prazer é uma
canção de liberdade, mas não é a própria liberdade. É o despontar dos teus
desejos, mas não o seu fruto. É um abismo a clamar pelo céu, mas não é
nem o abismo nem o céu. É a ave enjaulada a voar em liberdade, mas não é o
espaço que ela percorre. Na verdade, o prazer é uma canção de
liberdade. Gostava que a cantasses com todo o teu coração, mas não quero
que percas o coração ao cantá-la. Alguns jovens buscam o prazer como se fosse
tudo na vida, e, por isso, são julgados e repreendidos. Eu não os julgo
nem os repreendo. Prefiro dizer-lhes que partam em busca. Não ouviste
falar do homem que estava a cavar a terra à procura de raízes e encontrou um
tesouro? Alguns anciãos recordam os seus prazeres com remorsos, como se
fossem erros cometidos durante a embriaguez.Deviam recordar os seus prazeres
com gratidão, como quem recorda as colheitas de Verão. Os que não buscam
nem recordam temem o prazer, pois pensam que lhes irá prejudicar o
espírito. O teu corpo conhece a sua herança e as suas necessidades, e não
se deixará enganar. E o teu corpo é a harpa da tua alma; pertence-te e
cabe-te a ti criar uma doce música ou sons confusos. E agora perguntas, no
teu coração:"Como poderei distinguir o que é bom do que é mau no
prazer?"Vai para os campos e jardins e verás que a abelha tem prazer em
tirar o mel da flor, mas também se deleita a flor ao dar o seu mel à
abelha. Para a abelha, a flor é uma fonte de vida, e, para a flor, a
abelha é a mensageira do amor. E tanto para a abelha como para a flor, dar
e receber prazer é tanto uma necessidade como um êxtase. Portanto, no
prazer, sê como a abelha e a flor.
Kahlil
Gibran
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