quarta-feira, setembro 28

Resposta ao silêncio

I
E então veio o silêncio.
Ele entrou pela porta e num instante os lábios cerram-se sobre si mesmos,
Não mais palavras foram soltas ao eco,
Não mais se ouviram frases decoradas,
Não mais o murmúrio do bater dos corações.

Sobraram as almas que repousam
Em seus berços embalados numa melodia penosa,
Permanecendo agarradas em matéria que as cativam em corpos sem cor,
Em corpos sem nome.


II
Apenas o silêncio sabe os segredos que atirei ao mar,
Só ele e apenas ele, sabe o tamanho das lágrimas que brotei com o amanhecer e
A amargura do meu amor,
Só ele conhece a solidão no meu olhar.

III
Ele sabe da paixão que me faz refém da cegueira e
Me vicia a um opio que rompe os meus pensamentos,
Vagueia dentro de mim e vai-me derrotando.
Por vezes, vem o desejo de te ver,
O irracional e doce desejo de te ouvir,
O movimento estúpido e tolo de olhar para a porta,
O irritante bater descontrolado de uma bomba no meu peito,
Mas é apenas o silêncio.

IV
As tulipas negras desenhadas na tela,
Cheiram a Inverno,
Lembram-me domingo em Janeiro,
E é como a manhã  fria e silenciosa em que te vi...
Sentado na margem do rio,
Olhando o branco do gelo,
Difundido com a névoa matinal,
De peito rasgado e alma nas mãos.

V
Sinto todo este gelo dentro de mim,
Estou em falência vital sobre vidro partido,
Caída no silêncio,
Perdida na distância que mantém os nossos corações separados.

VII
Apago tudo o que disse.
Risco todas as palavras que cuidadosamente escrevi e
Retiro o fio de amor que teci durante o paraíso dos meus sonhos.
Volto atrás no sonho de este mundo nunca acabar,
Arrependo-me de ter visto dentro do teu olhar o mar,
O mar onde eu larguei os meus segredos.

VIII
Apenas o silêncio,
Só o silêncio atenua esta tristeza,
Só ele aconchega e aquece o meu coração gelado do frio do Inverno e
Desmazelado com o tempo sem ti,
Só ele acredita na vitória das palavras que eu fiz para ti,
Apenas ele sabe da simplicidade do silêncio,
O silêncio que eu inventei como resposta para ti,
Para partilhar uma vida que nos separou e
Fez jorrarem águas cristalinas,
Vindas do recanto mais profundo do oceano,
Pela minha face sem cor.
Tu sabes,
Tu sabes como sangrei de saudade de ti.
Então, ofereci-te um coração aberto,
Prometendo que ficaria,
Aqui,
Para sempre,
Para ti.

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