quinta-feira, agosto 5

esquecer...



Ela quer esquecer. Ela só quer esquecer. Aquela noite não lhe sai do pensamento. As recordações são uma constante, pesadelos que lhe penetram a mente, que lhe absorvem a energia, esgotam-lhe as emoções. Aquele momento...
Ela quer esquecer tudo. Mas não consegue.
Ela fecha os olhos na esperança que tudo se dissolva na escuridão que vê, mas tudo continua igual. Aquele cheiro, aquele frio, aquele clarão de luz falsa, aquele lugar, o medo e o horror. Ela relembra, relembra e relembra. Mas ela só quer esquecer.
Ela mexe-se, quase que estupidamente, pensando que aquelas recordações que persistem em ser revividas na sua cabeça desaparecerão.Ela pensa que não é real. Não pode ser real. Mas continua tudo igual. Tudo é verdade. Tudo foi vivido.
Ela não consegue esquecer. Como seria possível esquecer aquilo? Como seria possível esquecer o cheiro daquele lugar, os objectos daquele lugar, a insegurança, o desamparo e sofrimento que aquele lugar lhe provocara.
Agora, já só uma imagem está presente na sua mente. Ela nunca se vai esquecer daquela imagem. Só de a voltar a ver no seu pensamento lhe provoca dor. A dor não é física e não se vê por fora, mas por dentro corroi-a até à mais diminuta célula. A dor penetra no seu sangue, apodera-se do seu cérebro e alimenta o seu coração. Aquela face. Aquele sentimento que a extasiava.Mas Ela quer apenas esquecer. Ela não quer mais viver aquela momento, aquela perda.
Ela sofre. Como não poderia não sofrer? Nunca seria possível esquecer. Afinal era... era.. era, doí-lhe, apenas de saber quem era, se lhe perguntassem ela poderia desfalecer de agonia. Ela sabe quem era.
Ela sentiu cada toque,carícia, abraço,beijo. Ela partilhou todos os sorrisos e lágrimas, derrotas e vitórias, desgostos e amores.
Mas agora ela já não está cá. A pessoa que estava no seu pensamento foi embora. Amou-a.Apoiou-a. Mas agora abandonou-a. Desamparou-a. Aquela pessoa morreu.
Como poderia ela esquecer aquela face e aquele momento? Ela recorda. Ela sabe de tudo... Ela sentiu. Ela viveu. Era ela, era a face dela, era a vida dela. Como poderia ela esquecer?

1 comentário:

Otílio Hipólito disse...

nunca vai embora... pois fica alojado num local onde os sonhos acontecem e as ilusões habitam, onde os momentos marcantes residem e as pessoas especiais permanecem...

No teu coração!

Bjs