sábado, julho 20

"gosto de ti."

Quando alguém diz, com todas as letras (e possivelmente em maiúsculas) "gosto de ti." devia ser óbvio de que o típico e velho "eu também." não chega. E a justificação é bastante simples. É tão simples que não apresenta mais do que dois argumentos.
O primeiro argumento confina-se na expectativa criada e pela qual se espera obter, pelo menos, uma resposta de magnitude igual. Se não for em reciprocidade de sentimentos ou na mesma intensidade, ao menos que seja em consideração pela audácia, porque, afinal de contas, confessar "gosto de ti" é o mesmo que se atirar aos leões.
O segundo argumento reside na própria sintaxe da frase. Quando se utiliza um verbo, está-se sujeito a todo um conjunto de possibilidades (e, ainda pior, a um conjunto de conotações) das quais já não podemos fugir quando o dizemos, unicamente, porque o verbo deixou de nos pertencer. Gostar é um verbo. Por isso, dizer que se gosta de alguma coisa ou, por ventura, de alguém é sujeitar-se aos vários tempos, modos  e, sobretudo, às pessoas de conjugação.
Já se sabe que ao dizer "gosto de ti." se arrisca muito. Arrisca-se a levar uma valente "patada", arrisca-se a perder uma grande amizade (que, vai e volta, nem era assim tão grande), mas, também,  arrisca-se a ser correspondido. Arrisca-se com tudo a que se tem direito. E, até aqui tudo bem, é tudo perfeitamente normal. O que não me parece normal é que depois de todo este "arriscanço" há alguém que, na sua perfeita consciência, responda "eu também.". "eu também." o quê? O que é que isso significa? Nem sequer verbo tem! Nem 0,0000000001% de "arriscanço" tem, quanto mais verbo!
- Gosto imenso do quadro "A Primavera" de Botticelli!
- Eu também.
- Gosto da forma como as cores contrastam, mas especialmente da harmonia entre o Homem e a Natureza.
- Eu também.
"Eu também." o quê? "Eu também (e sei lá do que estás tu a falar)." ou "Eu também (e cala-te mas é que isso não me interessa)."?
Responder "eu também" é o mesmo que estar-se sentado a uma mesa com uma fatia de bolo à nossa frente e não se decidir se se dá a primeira dentada ou não. É ficar-se a olhar para aquele pedaço de perdição e não se comer por causa das imensas calorias que ele, desgraçadamente, tem.
 

1 comentário:

Por Amor disse...

QUERIDA SARA !!! PERFEITO !!! ENTENDO CLARAMENTE A EXPOSIÇÃO DAS TUAS PALAVRAS !!! SEI COM SENTES PARA ASSIM TRADUZI-LAS !!! TÃO BEM E RESUMIDAMENTE !!! COLOCASTES A VERDADE NUA E CRUA !!! DE FORMA BELA E FORTE !!! NADA DE FICAR SOBRE MUROS !!! VAMOS AS PONTES !!! PELO MENOS ESTAS A ALGUM LUGAR NOS LEVAM !!! UM BEIJO DO AMIGO QUE MUITO !!!! " TE GOSTA "

Pedro Pugliese