segunda-feira, maio 7

Frágil coração II


Luto por quimeras, ilusões e desejos que ironicamente moldados em cordas fazem mover este meu coração. E, não sendo essas cordas feitas de dragão ou fénix, fazem dele não mais do que aquilo que é, não mais do que o que sonha, mesmo que se atreva a sonhar para além da vida.
As minhas crenças e descomunais deposições de esperanças levam-me a dar tudo, dou tudo. Despojomo-me de opiniões próprias em prol do meu amor,  vejo-me culpada num espelho que reflecte apenas uma luz condicionada, uma chama que vai cessando mergulhada no seu próprio fogo. Cego pela ausência... não do meu amor, mas do meu  amor próprio.
De alguma forma, quando menos espero, esse amor quer mais, acaba sempre por querer  mais... está-lhe confinado pelo tempo, está-lhe selado na própria palavra, na aventura que é a exacta desventura gananciosa e impetuosa de querer e ser mais. Ao mesmo tempo, a minha humanidade imerge e limita-me. Não tenho mais para dar, mas ele quer mais.
Já não restam pétalas no sepulcro da túlipa. A alma desfalece diante dos meus pés e sem a ver piso-a sem nunca a sentir.
Esgotaram-se as palavras de tanto repetidas e gastas nas mesmas frases. Ficou apenas uma boca singela que não mais flui no silêncio ou na ausência dele.
Ainda assim, continuo à sua espera... Pode o  mundo fragmentar-se, as estrelas caírem desamparadas e o poeta sangrar palavras de dor. Continuo à espera, mas pode ele sentir algum amor? 
Um dia, convenço-me de que o meu coração não é mais do que aquilo que é, simplesmente é coração - recanto temporário para pó de alma, onde esta foi depositada com o intuito de a resguardar de gotículas lacrimosas, chuvas, ventos e tempestades; e se possível confiná-la inteira e imune de batimentos bruscos de coração que bate batendo por amor (sem amor).

1 comentário:

Tiago Braga disse...

Adorei todo o texto, mas destaco esta parte: "Esgotaram-se as palavras de tanto repetidas e gastas nas mesmas frases." adorei, amei! é uma grande frase