Houve um tempo em que o movimento das tuas mãos nos meus cabelos encaracolados me cegavam e eu, sem ver, tropecei para o abismo que fui culposamente escavando com cada toque e a cada palavra que saía da tua boca.
Todo o pó de estrela que enredou esta nossa história levou a final feliz nenhum...
Enquanto estouram no céu os últimos fogos de artifício, nós viramos costas sem olhar, falar ou tocar.
Não encontramos as palavras certas, nem nunca teríamos a coragem para as dizer.
Nunca te disse que estava tudo mal e que não encontrava forma de mudar isto.
Não te disse que precisava de ti.
Nunca te lembras-te que eu estava aqui.
Procuras-te emendar os erros e não solucioná-los.
Ficamos calados face rumores de que estávamos diferentes e de que fizemos tudo o que podemos, contentados e imóveis com um lugar numa fila de espera sem aparente rumo e sem ripostar para avançar.
Durante o tempo em estive no fundo pensei que, um dia, ias aparecer para me buscar daquele buraco negro de esperanças retidas na ansia de te ver e sentir chegar.
Na verdade, foste lá.
Foste lá dia sim, dia não, quando te recordavas que talvez eu precisasse de alguma companhia para passar o tempo.
O tempo realmente passou.
Até que um dia não apareces-te.
No seguinte também não.
E no dia a seguir a esse - nada de ti.
No seguinte ao anterior também não.
E nos seguintes depois de tantos outros, não, não vieste.
Chegou então o dia em que tive de me convencer de que não ias voltar, não havia mais nada que pudesses lá encontrar.
Eu tinha desaparecido no dia em que ficara à tua espera, no dia em que achara que tinhas deixado o teu coração comigo e que voltarias para o recuperar.
Foi difícil encontrar uma saída, mas aos poucos aniquilei cada pedaço de ti que deixas-te encrostado a mim, dentro de mim, e convenci-me de que tudo não tinha passado de um grande erro.
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