Se eu hoje te virasse as costas toda esta história criada no acaso não me provacaria a mesma nostalgia, nem o mesmo sentimento.
Se agora as luzes se apagassem e todos se retirassem das suas humildes cadeiras, haveria, então, o silêncio. No escuro deixariam de se escutar as batidas descordenadas dos ruídosos corações, não haveria mais a melodia dos suspiros e sons transparentes lançados pela alma.
Se ontem eu tivesse permanecido sentada no banco de jardim junto à tua casa, esperando que me olhasses da tua janela, eu ficaria esquecida no tempo que nos separa do presente e nos engana e ilude com o passado.
Ao olhar no espelho, nada mudou desde a última vez...
Os olhos verde-castanho à luz repletos de sonhos e receios que se assinalam nas leves olheiras que repousam na face de menina-mulher. O cabelo rizado, natural e selvagem que, ao acaso, foi despenteado e retocado por mãos desajeitadas.
Olhando o reflexo numa poça de água na rua, a imagem é a mesma, as personagens mantêm-se representando, mesmo sendo o palco a água que caiu da chuva.
Sentada nas escadas que vão em direcção ao campo de erva brava atrás da casa, lembro que isto é como mover montanhas... Não vejo progresso, não vejo um único gesto... Só as perguntas banais que me iludem e me afastam de ver que é por interesse, por vulgaridade, por nada.
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