terça-feira, agosto 10

mais do que palavras...



Porque todas as palavras voam do meu alcance. Todos os gestos escasseiam. Tudo que estava na minha mão começa a desaparecer. Os meus movimentos são difíceis. Já não tenho a capacidade de experimentar os odores e me deixar dissolver neles. Os meus olhos deixaram de ver a beleza que me rodeia. Só vejo escuridão. Sinto-me só e com medo. Estou apavorada com medo. Aquela escuridão cegou-me os sonhos. Fiquei, prepotentemente, envolta por tudo aquilo que mais temo. Eu temo tudo o que desconheço. O meu temer fez com que eu deixasse de proferir as palavras que sentia e que falava de mim, o meu toque, a minha visão, o meu olfacto. Deixei de sonhar. Deixei de sentir. Deixei-me levar pela ignorância sem me aperceber do que me estava a rodear.
Porque não vivi. Não vivi, de facto. Não percebi o que significava viver.
Porque não vi o simples que estava tão, mas tão perto de mim, todos os dias, em todos os momentos. Procurei sempre o mais difícil e complexo, sem ver a magnificiencia do simples.
Nunca senti os pequenos momentos, nem muito menos os vivi. Agora sinto falta deles. Sinto tanta falta que dentro de mim nasce um ardor cada vez maior. Este ardor, esta dor mata-me por dentro. E, eu, apenas, queria poder voltar a sentir o meu cabelo levado pelo vento, senti-lo a bater-me na cara e poder ser absorvida pela mistura de odores e frangâncias que ele liberta, fazendo-me experimentar tudo a que nunca dei importância e valor. Queria viver todas as banalidades.
Estava cega pela complexidade de tudo. E, agora, que perdi tudo, não sinto a sua falta, mas sim do que perdi para atingir a complexidade.
Deixei-me levar pelo que queria e não pelo que sentia. Errei. Errei tanto. Peço desculpa a mim mesma, todos os dias, por as palavras não terem sido suficientes, por ter permitido que elas voassem para longe de mim e não chegassem ao seu destino - o meu coração.

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