domingo, março 25

Luz mendiga

E, então veio a água dos céus, que caindo no paralelo arrastou os despojos das tulipas sem cor. Aberrações de almas vazias, aglomerados de pétalas sem voz, que esconderam nos seus cloroplastos aquele que, um dia, foi o meu coração.

Nunca foi fácil habituar-me..., sobretudo a mim mesma.
Nunca fui capaz de agarrar os sonhos com as minhas mãos, com medo que se dissipassem nesse efémero e abismal instante. Este suicídio desprovido de culpa teima em culminar no interminável e conhecido "nada". Contudo, sempre gostei da voz frenética do silêncio. Admiro-a. Chego a contemplá-la e desejá-la para os meus dias. Mas, essa ilusão sempre cai com o infindável raciocínio que circula nas veias que conduzem o sangue venoso a esse meu coração. Passados segundos, abomino-a, odeio-a quase tanto como o desejo que tenho de te ter. Dizem que não é "saudável" querer ser tudo e ter tudo ao mesmo tempo. É preciso tempo, é preciso deixar passar o tempo, é preciso deixá-lo chegar, é preciso aceitá-lo, é preciso acolhê-lo, é preciso vivê-lo. Sempre o soube, sempre o disse,  sempre o escrevi, sempre o sublinhei, até que apareces-te tu e, eu, risquei-o.

Apareces-te tu... e deixei-me divagar na condição de um amor...amor esse sem nome, sem voz, sem alma, sem coração, sem fim, sem vida, sem morte.
Apareces-te tu... e deixei-me guiar por uma luz mendiga que me beijou por dentro e então, desejei ver com os teus olhos, sentir com o teu coração e morrer, morrer por ti.

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